Tupua-bam do alto da grande arvore vigiava os homens
e os cutucava com a sua longa vara
lembrando das responsabilidades da vida
dos pecados da carne e
fazendo-os seguir em frente.
Mas Tupua-bam era sozinho
e se enfastiou desse seu destino de deus.
Lançou um longo lamento pelo caminho
e Apuam-bam apareceu.
Passando de galho em galho Apuam era uma deusa-fêmea
de poderes desconhecidos.
O que se sabe é que o seu corpo escorria pelas folhas
e seu cheiro misturou o cheiro de todas as coisas
e sua imagem era como a luz
e Tupua-bam foi ficando molinho.
E o homem que saiu de casa pra roubar achou que era difícil,
esticou a mão mansinha, tocou na campainha, e pediu comida !
A mulher madura ia praguejar contra os vagabundos mas achou mais fácil
encher o prato e dar. Gostou tanto que deu para o carteiro, abraçadinhos... Homem de sorte, foi o primeiro que chegou.
E o carteiro esqueceu as cartas. E as notícias ruins não chegaram no dia.
E as pessoas que não ficaram tristes não choraram. As que não ficaram alegres
não foram comemorar, como se agora, que Apuam-bam reinava na floresta, os sentimentos
pudessem ficar para serem sentidos outro dia.
E todos se olharam por horas, esticaram as mãos para tocar,
uns outros beijavam lentamente, falavam baixinho amenidades, para não
acordar os pássaros que, agora, destemidos, dormiam nos beirais das janelas.
As crianças sonavam dando com a sua plácida calma uma sugestão aos
velhos que também iam ficando molinhos.
Ninguém lembrou de ligar a tv, nem barulho de radio se escutou
no dia, só o sol brilhando o cal das paredes e o canto dos ventiladores.
Era Tupua-bam fazendo a corte de Apuam-bam, querendo fazer brincadeira.
Era Apuam-bam, faceira, escorrendo em torno do deus, louca pra se entregar
mas gozando a prévia alegria de encantar o macho só pra dar ao mundo um pouco
do mel da sua preguiça.
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