No país do futebol Ruan Miró Pinta mãos.
Dentre as poucas coisas que não gosto – sou realmente uma pessoa razoável que gosta de quase tudo – está, com certeza, o futebol. Futebol e cachorros estão ai cabeça a cabeça disputando o primeiro lugar dentre as coisas que mais me incomodam e confesso isso me submetendo, é claro, a toda a psicanálise de botequim dos amantes da bola e do cocô na calçada. Pra dificultar as coisas - adoro dificultar - vou logo traçando aqui mal engendradas linhas de defesa. Quem quiser criticar, portanto, já vai ter um trabalho a mais. Começo dizendo que meu desgosto pelo futebol é artigo que só serve para mim, que não descredencia quem goste e mais, como toda ojeriza, diz mais de mim mesmo que da própria coisa não apreciada. É sempre assim ! A verdade é que não gosto de futebol como você tem todo o direito de gostar ou não, ( e eu até o apoio que não goste) , de Juan Miró. Não sabe quem é Juan Miro ? Parabéns, a sua ignorância conquistou já parte da minha amizade. Sabe quem é Juan Miro ? Pois bem, então espero que também não goste dele. (Se gostar eu lhe respeito, seu babaca maria vai com as outras. Note, essa é a "moral" desse artigo ! ). Para uns e para outros, os que gostam e os que desgostam, entretanto, vou contar um caso bem documentado nos jornais brasileiros: o tal do Juan Miro, é um pintor catalão (adoro esse termo, pintor catalão, é chique) cujos quadros valem verdadeiras fortunas apesar dele – esse é o seu grande mérito – rir de todos nós pintando desenhos incrivelmente primitivos e idiotas nas telas. Basta isso, se quiser saber mais vá procurar no Google. O certo é que uma das obras "primas" do dito pintor, intitulada genialmente Direitos Humanos não é nada mais que um garrancho com uma de suas mãos "carimbada" numa tela. Certo estudante de arte, saberei o nome desse benfeitor da humanidade nem que seja a última coisa que faça na vida, mas, agora, estou sem tempo, furtivamente, no dia de uma exposição de Miró, carimbou no quadro também a sua própria mão. Bem, foram necessários seis meses até que um "expert" descobrisse a existência de mais uma mão na "obra prima" e trataram de retirar com a mais moderna tecnologia a mão desse "professor" de estética do lado da mão do "grande gênio" da ironia estética. Aliás, esse é o grande mérito de Miró, ele foi um cara muito inteligente e sacou logo que o ser humano merecia ser gozado, não ser levado a sério. Nesse ponto sou seu fã. O certo é que, não me entendam mal, voltando ao que estava dizendo – mesmo não suportando Miró, direi como Voltaire: Eu daria cinco reais (a vida não...não sou Voltaire, completamente) pelo direito de você gostar do "pintor catalão" . O mesmo eu digo do futebol. Não me venha com aquela frase boba que diz que o futebol é um idiotice só pelo fato de serem 22 marmanjos divididos em dois times de 11 idiotas correndo atrás de uma bola. Por favor, não me venha dizer essas coisas... por favor... ! Na verdade, acho que é isso mesmo sem contar que são, em geral, marmanjos que nunca estudaram muito e que viveram uma vida diletante e boa de campinho em campinho, comendo as meninas do bairro e hoje (essa é a parte dura e que dá raiva... se prepare) têm mais dinheiro do que você e eu vamos ter nas nossas vinte próximas encarnações até nos tornarmos seres de alma limpa e elevada. Mas no fundo, como Miró, eles merecem cada centavo do seu dinheiro e cada segundo de admiração. Não propriamente pela complexidade do que fazem ou mesmo dificuldade de fazer – e no futebol às vezes existe muita dificuldade e complexidade - , mas sim pelo que produzem nas pessoas, isso é o que importa. A fenomenologia já explicava que não existe a coisa em si mas sim a coisa conhecida. Todo objeto só se faz real perante o sujeito. Gosto de música, amo a música, não vejo mágica e encantamento nessa vida que lhe ultrapasse em poder. Entretanto , alguém poderia dizer (um amante do futebol num rompante vingativo ) que a melhor música não passa de um marmanjo puxando com seus dedos gastos umas cordinhas. Dedos quentes ainda do cigarro que descansa ao lado ou frios do copo de cerveja. E é ! Visto assim quase tudo perde o sentido e a graça. Visto assim até o sexo também se torna um risível espetáculo de posições malucas onde o telespectador eventual ainda tem que se submeter à inconveniente visão de uma bunda masculina cabeluda de vez em quando, a depender a posição da câmera hipotética ou do espelho no teto, arggg ! Mas sexo, música, futebol e Miro são coisas boas, eu juro, na justa medida em que um ser humano se sintoniza com elas e sorri, ou chora e se emociona. Sei que pensar assim nos leva a um louco niilismo onde tudo é nada e o nada é tudo. Niilismo que iguala Boticelli e Davince às mãos de Miro. Mas é isso mesmo. Ao final o que importa é o choro, é o riso, é o arrepio, é o suor nas mãos, é o calafrio, é o gozo, ao final o que importa é o grito de GOOOLLLLLLLLLLLLLL.
José Caldas Gois Júnior
março de 2008
Um comentário:
hahahahahaaha Góis ..haha sem comentários...essa crítica ficou muuito inteligente e engraçada!!!!
parabéns ( tô rindo até agora ,,heheheh)
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