quinta-feira, 2 de maio de 2013

Ao velho Buk, com carinho...


Leio Hollywood pela terceira vez e a cada dia me convenço que Bukowski teria sido um bom amigo não fosse o fato de ter morrido dez anos antes de eu o ter conhecido.
Mais que amigo, Bukowski seria um daqueles caras com os quais eu não teria pressa de entornar uma boa garrafa de vinho e que chamaria de irmão, temos muito em comum.
Quanto mais leio Bukowski mais me identifico. Os personagens do “ultimo maldito americano” são seu alter-ego e, inexplicavelmente, o meu também.
Não que eu seja igual a Chinaski, não, eu sou o Bukowski que deu certo ou, talvez, seja o contrário.
Bukowiski teve a glória do sucesso, eu tenho a glória de ser pragmaticamente feliz.
Leitores inveterados dirão que Bukowiski feliz não seria genial, concordo, não sou genial !
Henri e eu temos, entretanto, esse compromisso visceral com a arte e com o prazer e esse incômodo com a sina de ter que trabalhar para sobreviver enquanto a vida passa. Ambos gostaríamos de ser sustentados por uma rica mulher que nos permitisse cantar até de madrugada, escrever e dormir durante toda a manha – driblando assim o tempo que nos consome. Ele até que tentou, eu me arrasto da cama todo dia muito cedo.
Mas o tempo passa e a gente nem sente. Tenho uma filha de 21 anos, agora não dá mais pra negar: estou envelhecendo. Vejo o alvoroço das meninas na saida de faculdade, estão lindas, lembro uma época memorável onde eu também era apenas um estudante, os recreios, as musas da ocasião, hormônios, hormônios...
De repente a palavra estala nos meus ouvidos: “Pai !” E depois: Tio, tio... tio... pode deixar a gente no Shopping ? Putz... sou um velho safado mesmo ! Cheguei aos quarenta e quarenta é uma idade que eu sempre achei que caia bem para o meu pai, não para mim. De repente virei o cara da sukita e nem percebi.
E existe no meio de tudo todo um patrulhamento ideológico pro-envelhecimento. Existem ritos obrigatórios de envelhecimento que implicam em abandonar certas coisas e aderir a outras coisas "de velho"... isso é que me chateia !
A sociedade estabeleceu um estatuto onde envelhecer é também morrer vivo.. ir perdendo as funções, inclusive as sexuais (esqueça o viagra por enquanto) – obrigatoriamente. Mantenha suas aptidões ao longo dos anos e seus mais rotineiros hábitos vão virando excentricidades e depois coisas ridículas e depois perversões senis !
Eu uso bonés ! Sim... uso bonés. Sempre usei.
De uns tempos pra cá as pessoas me olham de boné e dizem: só quer ser garotão, de boné né ? Quer esconder a careca ? Putz, voltem o filme, sempre usei boné, eu juro ! Mas agora não é mais permitido, você tem  quarenta, portanto, mostre a careca !
Quando penso no meu futuro acho que serei um “nojento” velho safado. Pois é... espero aos oitenta ainda admirar a beleza noviça de uma linda garota no esplendor dos seus dezoito anos e quem sabe, com a licença poética de um vovô, dizer até uma gracinha. Digo isso com todo o medo das hostes dos caçadores de pedófilos e faço logo minha defesa, a beleza é universal e existe algo na juventude que enfatiza a beleza feminina. Juro, essa consideração é somente estética !
Minha mãe, que descobriu uma forma plácida e conformista de envelhecer me dá conselhos diários: “meu filho, você não é mais pra agir assim, você ta ficando velho... ! Putz mãe, logo a senhora que me ensinou a ser artista ?
Há... vou ler Bukowski, ele sim foi um homem inteligente, soube conservar seus vícios. Como disse, o velho Buk é um irmão mais velho, estamos unidos por esse compromisso com o prazer e com o belo e esse inconformismo com a morte e com o envelhecimento que, em última instância, parece que é o que nos lança para a arte como derradeira forma de existirmos depois de nós mesmos.

2 comentários:

Caroline Oliveira disse...

Q texto lindo. Quanto aos olhares lançados sobre as noviças, deve esquecer as censuras sociais, aposto que as noviças tem tanto amor pra compartilhar que pouco s
e importam com detalhes. Elas tem beleza, tem tudo, a busca hoje em dia é pela plenitude do prazer. E nesse caso, não há companhia melhor que a experiência ;)

Vic disse...

Belíssimo texto!Esse homem era de uma autenticidade incrível...Sou admiradora do mesmo. Não pelas suas atitudes mas pela forma com que sua mente a conduzia a elas. Adoro a linguagem seca, desiludida, coloquial e repleta de termos de baixo calão, Bukowski enxergava a frente do seu tempo. E é justamente sua capacidade de transformar o trivial – e até mesmo o escatológico – em análise humana e, principalmente, em literatura que chama a atenção.


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