terça-feira, 24 de março de 2009

Papilio machaon

A Papilio Machaon bate suas asas frágeis como finíssimas folhas de papel amarelas tendo abaixo, próximas da calda, duas bolas vermelhas que simulam dois grandes olhos ou, num presságio, a imagem de satélite de dois grandes furacões.

Seu primeiro vôo se desenvolve com tanta graça que um observador desatento das aulas de biologia não acreditaria que aquele lépido alado foi há muito pouco uma rastejante lagarta.

A pequena Papilio Machaon talvez nunca tenha merecido um programa na Discovery ou no Animal Planet, nenhum verbete maior que meras cinco linhas no meu antigo livro de zoologia e um verbete ainda menor na Wikipedia ( faço essa referência só pra parecer moderno :) e dizem que é desprezada até pelos predadores. Existem coisas intrigantes sobre ela como o fato de que “fede” e de que as manchas nas suas asas dão a ela uma imagem agressiva, o que, definitivamente, não corresponde à sua real natureza, mas que ajuda a espantar os predadores. Mesmo no diminuto mundo das borboletas, portanto, a Papilio Machaon não pode ser considerada uma espécie dominante, mas somente uma borboleta comum.

Todos os anos, entretanto, obedecendo a uma estranha e secreta ordem milhares de Papilio ou Borboleta Rabo de Andorinha começam uma viagem que dura 30 dias, o que também não parece muito enquanto viagem, mas para a Papilio é uma viagem que dura toda a vida adulta delas e que somente acaba com a morte.

No dia 16 de abril de 2009 completa um ano de morte de Edward Norton Lorenz um cara que não entendia muito de borboletas nem de viagens, mas que como climatologista se preocupava muito com o imprevisível e com a incapacidade humana para prever o acaso e que é um dos meus ídolos já faz algum tempo.

Há, alguns anos lendo um livro sobre a “teoria do caos” descobri Edward Lorenz e soube que em 1998 o sistema de previsão de tempestades tropicais dos Estados Unidos diagnosticou a formação de uma tempestade tropical sobre Louisiana que ocorreria em três dias.

Edward Norton descobriu que havia sobre o oceano pacífico uma pequena diferença nas medições executadas - causada pela alteração do micro-clima em torno das frágeis Papilio Machaon voando preocupadas em cumprir a sua sina migratória - e que estas alterações poderiam prever uma pequena diferença no deslocamento das massas de ar próximas ao Alaska.

Em função das diferenças, houve uma realimentação de dados nos computadores, estes refazendo os cálculos previram que a formação da tempestade tropical em Lousiana não ocorreria, mas haveria sim a formação de um tornado de proporções gigantescas em Orlando, na Flórida, o que realmente ocorreu em 22 de fevereiro de 1998.

Nos últimos tempos, talvez de forma um pouco intempestiva, tenho tido a sensação que está na hora de começar a minha jornada pela vida adulta. Não posso mais me dar o direito de me contentar com ambições de larva, a natureza grita que tenho asas e agora é hora de alçar vôo, é sempre assim!

Não tenho grandes ambições, quem me conhece sabe, mas algo em mim me dá conta que, “guardadas as devidas proporções”, é hora de iniciar a longa viagem da maturidade que se acabará é certo somente com a minha morte e que cada batida de asas, por menor que seja, é parte de um grande e orquestrado sistema cósmico que talvez esteja tão além da minha compreensão quanto uma foto de satélite esteja do entendimento de uma Borboleta Andorinha.

Recuso-me, entretanto, a somente seguir viagem; No fundo quero entender os motivos quero apreciar a paisagem, quero ousar escolher os meus caminhos mesmo que essa ousadia seja mera ilusão e ao fim eu esteja tão-somente cumprindo o meu papel no “Grande Plano”. Numa segunda alternativa, cada bater de asas corresponde à grande responsabilidade de inflar a vela dos catamarâs no atlântico ou levar agonia aos povos do pacífico e isso é realmente grave.

A uma pode ser que não caiba a nós decidir se iremos causar furacões ou apenas imperceptíveis ventinhos marítimos, neste caso direi apenas que me preocupo em fazer a minha parte, influenciando o “micro-clima” ao meu redor! A duas digo que talvez possamos fazer a diferença e, talvez com algum esforço útil, seja possível influenciar no mundo.

Desconfio que o impulso secreto que move as borboletas andorinhas de dentro dos seus casulos é o mesmo que move todo homem para os grandes desafios da vida e é praticamente impossível resistir a esse chamado, bem como não posso simplesmente denominar a isso de “acaso”. A viagem, entretanto, é um momento de “quase-liberdade”, quero crer que sempre existirá momento em que qualquer um pode decidir que caminho tomar mesmo sendo impossível afirmar que esse seja o melhor caminho. Ousarei tentar!

Nada afasta o fato de que ao fim da viagem, como prêmio ou como desilusão, nos encontraremos com a morte, essa é à parte “não caótica” da história, variável perfeitamente determinada na vida de uma Papilio ou de uma homo sapiens e o tempo está contra nós.

Já sinto o vento sob minhas asas e ver o mundo daqui de cima é ao mesmo tempo surpreendente e aterrador, confesso que tenho medo! Não sei se o nosso bater de asas inflará as velas no atlântico, fará sorrir os preguiçosos à beira mar, esvoaçará o cabelo dos amantes ou varrerá as terras do pacífico em grandes ondas colossais, mas antes de tudo, seremos vento ou tempestade muito depois de termos deixado de ser gente e isso é o verdadeiro, grave e complexo milagre!

José Caldas Gois Júnior

2 comentários:

Greyce Kelly Cruz disse...

ACHO QUE É O MILAGRE QUE BUSCAMOS TODOS NÓS...O MEDO É SÓ MAIS UM DOS FATORES A NOS INFLUENCIAR,MAS DEIXÁ-LO DE SENTIR É O MESMO QUE ESQUECER QUE A VIDA É UM CONSTANTE DESAFIO...

Anônimo disse...

Ual!


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