sábado, 11 de outubro de 2008

Reflexão sobre a beleza...

No post de hoje temos uma bela reflexão sobre a escravidão estética nos dias atuais escrita pela não menos bela Deíla Barbosa Maia,maranhense, médica, advogada, poeta, amante da verdadeira beleza que se encontra além das ditaduras atuais:


Reflexão sobre a beleza...
Deíla Barbosa Maia *

Em conversa recente com um fotógrafo famoso, na II Feira do Livro de São Luís, vieram-me à mente algumas reflexões sobre a beleza, em especial a beleza feminina, talvez devido ao fato de eu ser mulher. Dizia-me ele: "Tem um programa de computador em que, com um pequeno clique, saem TODAS as imperfeições da pele: manchas, espinhas, rugas, tudo." Fiquei pensando nos contrastes conceituais da beleza ao longo do tempo.
Antigamente, os grandes artistas da pintura e da escultura renascentista, na busca pela perfeição de sua arte, tentavam, com grande rigor técnico, retratar a natureza e o ser humano, com todas as suas imperfeições: a veia saltada, as olheiras, as manchas, as gordurinhas, os vincos faciais... Havia também grande preocupação com as tonalidades de cor e com a luz, em seus variados espectros. Quanto maior a semelhança com a realidade, mais talentoso seria o artista. As pinturas eram verdadeiras "fotografias em tela e tinta"; as esculturas tentavam imitar a vida, dando o máximo de fidedignidade possível às suas obras. Leonardo da Vinci e Michelangelo são exemplos primorosos desta época.
Com o tempo, os impressionistas, como Monet e Renoir, deixaram de se ater tanto à realidade, pintando e esculpindo suas "impressões" do mundo, enfim, trazendo suas visões peculiares acerca da realidade que os cercava.
No pós-impressionismo, vieram os grandes mestres Van Gogh, Cézanne e Paul Gaugin, traçando novos rumos à pintura. Ah, os inesquecíveis girassóis amarelos de Van Gogh!!! Quanta beleza oriunda de uma mente tão atordoada...
Com o cubismo, as pinturas não tinham mais o compromisso de retratar a realidade, como se pode verificar facilmente pela apreciação das obras de Picasso e da suprema Tarsila do Amaral, por sinal, minha artista brasileira favorita.
Então veio o Dadaísmo e a sua ilogicidade crítica e, posteriormente, o surrealismo de Salvador Dali, com seus relógios dobrados no tempo e no espaço. Contemplar as obras de Dali nos leva a "viagens surreais" ...
Voltando aos nossos dias, a tônica de hoje na arte é a liberdade de formas e de temáticas, seja na pintura, escultura, poesia etc. Neste contexto, a fotografia digital trouxe grandes avanços, pois popularizou uma arte antes restrita a um grupo muito seleto de pessoas. Hoje em dia, qualquer um pode fazer suas inúmeras fotos, seja do celular, da câmera digital, MP5 ou do até do palm top. Quer dizer, qualquer um não, só os que possuem dinheiro para ter acesso a tais parafernálias tecnológicas...
Atualmente, o padrão mais comum na fotografia comercial, presente nas grandes mídias (TV, jornais, anúncios, revistas etc.), acaba criando uma influência um tanto quanto perniciosa, na medida em que propaga uma idéia de beleza inalcançável, absolutamente inatingível para a grande maioria dos mortais.
E veio-me à mente o paradoxo entre a arte de outrora (Renascimento) e a atual: antes, a “perfeição” da arte consistia em reproduzir as “imperfeições” das pessoas, enquanto que hoje, o “segredo” da foto digital é justamente retirar todas as “imperfeições”, criando um novo padrão de beleza, em que não é permitido ter defeitos.
A excessiva exposição de modelos esqueléticas, "artistas" popozudas, botocadas, siliconadas, de dentes branquíssimos e com os cabelos devidamente alisados gera uma insatisfação crescente com o próprio corpo, em especial entre as adolescentes. O resultado está aí: aumento de casos de anorexia, bulimia e uma busca incessante - e bastante lucrativa para alguns!!! - por uma beleza artificial e padronizada.
Lembrei-me de uns versos que fiz há algum tempo, na poesia chamada "Calipígia", em que faço justamente uma crítica a esta situação:

"Uma beleza apática, autoritária, sem vida
Muitas vezes cara e dolorida!!!
Para fazer tudo ficar tão igual...

Minha beleza vem de dentro...
Vem da minha paz com o meu corpo de balzaquiana
E dos prazeres que ele proporciona...
A esta criativa aquariana. "

Finalizo esta despretensiosa reflexão sobre a beleza com os versos de Fernando Pessoa, no poema que é o meu predileto - "Poesia em linha reta" - , em que ele desabafa:

"Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?"

Conclamo toda a "gente" como eu, homens e mulheres, a assumir suas "imperfeições", libertando-se desta nova "ditadura da beleza", e assim apreciar a verdadeira beleza da vida que nos cerca e, principalmente, a beleza presente em cada um de nós.

*Poeta, médica, advogada e uma mulher cheia de imperfeições, mas que ainda assim se vê bela, pois considera beleza um estado de espírito. E-mail: deilamaia@gmail.com

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